Estagiários e servidores públicos da Justiça do Rio Grande do Sul acusados de vazar dados sigilosos para facção criminosa

Estagiários e servidores públicos da Justiça do Rio Grande do Sul acusados de vazar dados sigilosos para facção criminosa
Foto de EKATERINA BOLOVTSOVA

No dia 20 de outubro de 2023, estagiários e servidores públicos do sistema judiciário da Justiça do Rio Grande do Sul foram acusados de vazar informações sigilosas de processos, mandados de prisão e de busca e apreensão para traficantes de drogas ligados a uma facção criminosa. A operação para prender os envolvidos foi conduzida pela Polícia Civil em cinco cidades do estado.

Os acusados recebiam informações detalhadas sobre quando os mandados seriam cumpridos, quem eram os alvos e até mesmo quais casas seriam alvo da polícia. Esse vazamento de informações permitiu à facção criminosa evitar ações policiais, retirar materiais ilícitos de origem criminosa e, em alguns casos, escapar das prisões.

A delegada da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Fernanda Amorim, destacou que os valores cobrados pelos estagiários variavam de acordo com a importância do investigado e o grau hierárquico que ocupavam na organização criminosa.

“Eles recebiam informações consecutivas sobre quando seriam cumpridos os mandados, quem seriam os alvos. Em quais casas a polícia entraria”, conta a delegada da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Fernanda Amorim.

Vazamento de informações afeta a segurança pública

A facção criminosa envolvida nas investigações é responsável pelo tráfico de drogas em um condomínio em Porto Alegre. Imagens mostraram como as informações vazadas permitiram que os criminosos se antecipassem às ações policiais, comprometendo a segurança da comunidade e minando os esforços das forças da ordem.

Outro caso alarmante ocorreu em Santa Maria, onde a polícia não conseguiu prender um gerente do tráfico de drogas, pois as casas estavam vazias quando chegaram. A investigação revelou que o mandado de busca foi vazado com a ajuda de uma servidora do fórum de São Gabriel, cidade localizada a 162 quilômetros de Santa Maria. Essa grave situação ressalta a extensão do problema e como o vazamento de informações afeta a segurança pública.

Estagiários afastados

Além disso, ex-estagiários do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul estão entre os acusados, destacando a urgência de investigar e resolver esse problema sistêmico. Segundo o desembargador Vinicius, aproximadamente 500 senhas foram identificadas como pertencentes a estagiários que já não estavam mais na função, mas esse problema foi resolvido rapidamente.

"Nós temos cerca de 4400 estagiários, cerca de 8500 servidores e cerca de 1000 magistrados. Houve algo lá próximo a 500 senhas que foram identificadas como já de ser estagiários que já não estavam mais, mas foi rapidamente resolvido isto", diz o desembargador Vinicius.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul participa das investigações e já afastou 14 estagiários envolvidos no escândalo. Além disso, estão sendo investigados outros 7 servidores por suspeita de uso indevido de senhas. A violação de sigilo funcional e associação criminosa são as principais acusações, com pena total de até sete anos.

Esse incidente lança uma luz sobre a necessidade de aprimorar os processos de seleção, treinamento e supervisão de estagiários e servidores do sistema judiciário. A confiança do público na integridade do sistema judicial é fundamental para a manutenção da ordem e da justiça em nossa sociedade. É importante que medidas rigorosas sejam implementadas para evitar que casos semelhantes ocorram no futuro, prejudicando a credibilidade da Justiça.